domingo, 3 de maio de 2009

Um Charuto nunca é apenas um Charuto

Por Jaime Cimenti


Essa história, acho que do charuteiro Freud, que um charuto, às vezes, é só um charuto, que pode não ter conotações fálicas e não sei o quê mais, para mim, pode até ser, mas, na real, é papo simples demais. Qualquer aficionado sabe que um charuto nunca é só um charuto. É muita coisa, muita gente, muitas lembranças e muitos projetos futuros mais, enquanto a vida e a filosofia vão se mesclando nos círculos e labirintos infinitos da fumaça, enquanto os sonhos e as lembranças vão e vem ao sabor da compassada degustação de um puro. Eu, por exemplo, comecei a charutear com meu velho, saudoso pai, Alberto Cimenti, imigrante italiano de primeira, que não morreu, de modo algum, há vinte anos. Lembro que meu pai, energético e algo agitado gringo, quando tomava um charuto nas mãos, parecia que estava manipulando algum objeto "zen". Ele muitas vezes ficava ouvindo seus discos de vinil com clássicos, música italiana e outros ritmos, bebericava um vinho ou um conhaque e ficava pensando em mil coisas. Nas damas, nos negócios, na sua empresa de construções, nos milhões de gols do Inter, na família, no seu País, nos amigos , em boa gastronomia e em muita coisa mais o pai pensava. Nisso tudo e mais muito pensava também meu irmão,o querido Gianfranco, que se foi mas não se foi muito cedo, e de repente, na flor de seus 47 muitíssimo bem vividos. Franco também gostava de charutos e gostava demais da vida, do trabalho e das pessoas. Só o fato dos charutos me darem oportunidade de relembrá-los, já é muito e demonstra que um charuto nunca é só um charuto. Um charuto pode significar um mundo. Ou, de repente, vários mundos. Um charuto pode significar o infinito. Ou, pelo menos, a busca do infinito, o que já é mais do que simpático. Ingressei na Confraria do Charuto bem no início , num tempo que pintavam por lá no Gattopardo da 24 de Outubro 1585, onde hoje é o Sulina Grill, José Antônio Pinheiro Machado, José Abujamra, Eduardo Albuquerque, Ricardo Malcon, Paulo Alencastro, Paulo Amaral, Caco Schuck, Raul Vieira Marques, Moacyr Zaduchliver , Andre Hermann , entre muitos outros amigos. Nosso fiel escudeiro e charuteiro Antônio sempre lá, desde o começo, fornecendo sorrisos, atenções e puros. Depois a Confraria foi para o Gatinho, ali na Cristóvão , esquina Felícissimo, no flat. Sempre sob a batuta da alta confrade Eleonora Rizzo, com o assessoramento luxuoso da Alice Cirne Lima . A Eleonora ,caxiense, é apenas o máximo. Imagina se ela fosse de Bento Gonçalves. Ela segue nos tratando com todo o carinho e não dá para imaginar a Confraria sem ela. Campai, longa vida para ti, Eleonora! Depois a Confraria para vários lugares. Se espalhou pela cidade feito brisa boa. Muita fumaça e muitos charuteiros apareceram e desapareceram, muita conversa rendeu ,algumas intrigas normais, muita coisa rolou desde então. Em alguns momentos a Confraria, especialmente nos meses de verão, deu um tempo. Mas sempre continuou. Silvio Duncan, o grande Silvio, disse que o importante é a poesia e não o poeta. Pois digo para vocês que os confrades são importantíssimos, mas a Confraria é mais, claro. Ela segue, impávida, seu caminho, já com a distinta pátina do tempo nos ombros bem cortados de seu elegante sobretudo. A Confraria do Charuto é tipo a Igreja Católica, morrer, pagar impostos, a Coca-Cola, a Mangueira , Jesus Cristo, Santana, os Beatles, o Inter e outras coisas eternas. A Confraria é forever. Forever young, de repente, como diz a letra do rock gostoso. A Confraria há de ficar. Ao menos em nossas lembranças, em nossos sonhos e nos lábios portadores de puros de nossos filhos, netos, bisnetos e tataranetos vai ficar. A Confraria não vai. A Confraria só vem. E vem, agora, com a força da rapaziada, dos guris que com os charutos vão se formando com láurea na escola da vida, a que mais interessa. Algumas horas de Confraria valem mais que alguns MBAzinhos que andam por aí. Óbvio que os "seniors" aficionados como eu ficam ouvindo e aprendendo muito com os papos, as ídéias e as ações dos caras que são o presente e o futuro da Confraria. Não falei no início que um charuto nunca é apenas um charuto. Me deu até vontade de escrever a história da Confraria. Mas seria apenas um "work in progress", um trabalho em movimento, pois a história mal começou, deve ter só uns quinze anos, se tanto. Hasta siempre, cigar lovers!

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