quinta-feira, 18 de junho de 2009

Os charutos de Churchil

Por Beja Santos

Confesso que iniciei a leitura deste livro mais movido pela curiosidade do que julgava ser uma bisbilhotice que pela importância do conteúdo. A surpresa é que se trata de uma leitura absorvente, quase mágica, a ponto de nos rendermos à iconografia desses charutos que identificavam o primeiro-ministro britânico na sua luta encarniçada contra Hitler. Lê-se com paixão, tal o encanto da história, só inessencial por se considerar uma bagatela aqueles charutos com que Churchill apareceu em milhares de imagens, projectando-o como farol da resistência democrática (“Churchill e os Charutos, uma paixão que atravessou a guerra e a paz”, por Stephen McGinty, Alêtheia Editores, 2008).No século XIX, o charuto é estatutário, um luxo de uma clientela selecta onde se inseria o pai de Winston Churchill, Lord Randolph Churchill. A principal tabacaria londrina do tempo era a Robert Lewis que vendia produtos dispendiosos como ao mais finos charutos cubanos ou os cigarros Balkan. Em 1900, Churchill, na altura com 25 anos, entrou neste santuário do fumo e iniciou uma relação que só terminaria com a sua morte, em 1965. Nesse primeiro dia, o jovem Winston comprou 50 Bock Giraldas, um pequeno havano, por 4 libras, e uma caixa de 100 cigarros Balkans, que lhe custou mais 11 xelins. A Robert Lewis pertencia ao judeu José de Solo Pinto que soube imprimir ao negócio uma selecção de produtos que tornaram a tabacaria no primeiro estabelecimento londrino do género. Segue-se a história dos hábitos tabágicos de Churchill e a sua chegada a Cuba, que o tornou um indefectível apreciador de havanos de alta qualidade. Entretanto o autor aproveita para nos dar conta da importância do havano e como este se celebrizou a partir do século XIX, graças a marcas que percorreram o mundo inteiro como Upmann, Hoyo de Monterrey e Romeo y Julieta. Como observa o autor, “A aristocracia dos fabricantes de charutos são os enroladores, dos quais se diz que precisam de seis anos para se tornarem competentes, dez para serem hábeis e uma vida inteira para chegar à mestria. Estes homens – e em anos mais recentes também mulheres – eram capazes de pegar num monte de folhas e enrolar uma dúzia de charutos numa hora, passando habilmente pela nove fases do processo de fabrico e manufacturando um produto acabado com uma boa vitola – o termo utilizado para descrever o equilíbrio entre tamanho, potência, forma e apresentação”.Em 1926 Churchill e a mulher compram Chartwell uma mansão do século XVI que será o novo lar da família. O charuto, as suas caixas e os seus humidores, marcam presença à escala dos milhares, guardados numa pequena sala do primeiro piso. Nesse tempo Churchill e o charuto já vivem em fusão, o político tinha consciência da imagem que o charuto projectava, uma imagem de confiança descontraída, muito importante para o eleitorado. Escreve o autor: “O charuto era igualmente uma espécie de cata-vento do seu tempestuoso temperamento: podia tirá-lo da boca e agitá-lo no ar realçar um ponto ou, quando estava particularmente furioso rosnar uma ordem com ele entalado entre os dentes. Fazia todo um espectáculo de preparar o seu charuto, riscando várias vezes o fósforo e expelindo várias baforadas de fumo... Em encontros mais privados, ficava a fumar em silêncio, deixando que a cinza crescesse até representar metade do comprimento do charuto. Os colegas ficavam como fascinados por aquele aparente desafio às leia da gravidade e quase esqueciam o que estava a ser dito...”.Como não há uma página aborrecida neste livro, em que os havanos entraram irremediavelmente na vida do mais célebre político britânico de todos os tempos, é inevitável chegarmos à Segunda Guerra Mundial e à importância dos charutos de Churchill: as medidas de segurança para evitar o envenenamento do líder britânico; as ofertas vindas de havana, as ofertas de charutos feitas pelos seus compatriotas e pelos admiradores como o multimilionário Samuel Kaplan, seguem-se as peripécias dos havanos que vinham de Cuba e que o regime de Fidel Castro alterou a via de abastecimento. A partir de 1946 Churchill viaja, numa doce reforma que só interrompe quando volta meteoricamente ao poder, em 1951. Fuma, bebe e come do melhor, é um ídolo consagrado tem no milionário cubano Antonio Giraudier um admirador incondicional, que o abastece até ao limite das suas posses, quando todos os seus bens são nacionalizados em Cuba.A memória de Churchill é indissociável dos seus charutos: as suas relíquias de fumo vendem-se em leilões, há esculturas dos seus charutos, no fundo o seu verdadeiro carburante e que determina a mania churchilliana.Era inimaginável uma leitura tão estimulante em que o aparentemente insignificante ganha todo o significado iconográfico. Afinal, aqueles bens de consumo criaram a imagem do político, deram-lhe a vibração e a forma definitiva com que ele passou à História, junto às suas obras, um riquíssimo somatório de grandes vitórias e um número não desprezível de grandes desaires. Um sinal de vitória com dois dedos, um charuto entalado num sorriso, eis um país que aceitou segui-lo em toda a provação quando ele só prometeu “sangue, suor e lágrimas”.

Confraria Junho 2009



Na ocasião, os confrades serão recepcionados com espumante cortesia Salton Ouro, e com o seguinte cardápio:
Entrada: Salada Caesar
Prato Principal:
Spätzle ao Paillard (massa alemã gratinada acompanhada de filé Paillard)
ou
Peixe à Fiorentina (filé de peixe sobre colchão de espinafre ao molho de
nata gratinado com queijo e batatas)
Sobremesa: Tortinha de nozes com damasco
Valor: R$ 55,00 por pessoa

domingo, 3 de maio de 2009

Convite confraria Maio 2009

A Confraria do Charuto de Porto Alegre tem o prazer de Convida-lo para a Reuniao mensal que será realizada na proxima segunda-feira, dia 4 de Maio, a partir das 19:30, no restaurante Santo Antonio (Rua Dr. Timóteo, 465). Na ocasião, os confrades serao recepcionados por um cardapio especial preparado pela família Aita, acompanhado de espumantes selecionados pela casa.

Confraria Abril/2009 - Chairs Resto Lounge

A reunião mensal da Confraria do Charuto de Porto Alegre reuniu, segunda-feira, um seleto grupo no Chair Resto Bar, na Zona Sul. Além do cardápio especialmente produzido para o encontro, os confrades foram recepcionados pela direção do Chairs (leia-se Lino Zinn e Márcio Burin) com espumantes da Chandon.

Marcelo Aiquel, Luiz Carlos Paraguassu, Fernando Di Primio (agora, no marketing do Grêmio), Sandro Marcelo Ferreira dos Santos, Lauro Andrade, Ricardo Silveira, Cláudio Jardim, Maurivan Botta, Diego Martins, Rafael Vaghetti, Nei Moura e Ottomar Bianchini foram alguns dos confrades que prestigiaram o encontro.

Entre os planos discutidos no encontro esteve a realização de uma reunião ainda em 2009 no Wynn Hotel em Las Vegas.

Convite confraria Abril 2009

CARDÁPIO
Entrada:
Carpaccio
Prato principal:
Papardelle quatro queijos :
massa parpadelle, ao molho quatro queijos, com iscas de filé, servido na cesta de parmesão.
ou
Frango quatro queijos
Sobremesa:
Brownie de chocolate ou de doce de leite;
Preço por pessoa:
R$ 55,00

Um Amante dos Puros

Por Sandro Marcelo Ferreira dos Santos

Em 1994, um amigo casou e foi para Cuba. De “regalo” me trouxe um Romeo y Julieta (tubo forrado a cedro nº 2). Até então, nunca havia fumado cigarros, aliás, odiava e odeio aquela fumaça malcheirosa exalada por estes pequenos cilindros brancos de papel. Por alguns dias fiquei observando aquele tubo prateado, sem saber o que fazer. Minha única experiência, havia sido com cachimbos, mas confesso que não obtive muito êxito com as pipas. Ganhei um cachimbo inglês, mas mesmo assim, era algo que não me dava muito prazer, achava dificultoso o procedimento, o cachimbo apagava várias vezes. Certo dia, refleti que “não era a minha praia”.

Bem, voltando ao Romeo y Julieta presenteado pelo meu amigo, comecei primeiro a me informar sobre os rituais, a arte dos puros, li alguns artigos em revistas. Achei que estava preparado para enfrentar aquele primeiro puro cubano. Aquele dia, foi emblemático e inesquecível em minha vida. Após observar, admirar aquele cilindro marrom, sentir o aroma, dei algumas baforadas e exalei aquela fumaça azulada, lânguida e cheirosa, aquele perfume inebriante. Descobri que gostaria que este prazer me acompanhasse até o final dos meus dias.

A partir do primeiro charuto (esse a gente nunca esquece) comecei a freqüentar com certa habitualidade algumas tabacarias de Porto Alegre, conversar com alguns adoradores, “cigar aficcionados”. No ano de 1997, fiz minha primeira viagem à Cuba, lá conheci o Sr. Mons, na época tinha uma loja de charutos no bairro de Vedado. Atualmente, é considerado um dos maiores “connoisseur” em todo o mundo. Mudou sua “tienda” e está estabelecido no Club Havana. Me apaixonei pela ilha, pelos puros e por tudo o que estivesse relacionado ao assunto. O cheiro exalado pelos puros recém manufaturados é inigualável. Voltei da ilha e adquiri todo o tipo de acessórios, tais como, guilhotinas, balas furadores, porta charutos, cinzeiros, etc. A partir da minha adoração pelos puros, fiz vários amigos, também apaixonados por charutos. Parafraseando, um dos maiores poetas brasileiros, vulgarmente chamado de o “poetinha”, pois os críticos achavam sua poesia menor, mais popular. Refiro-me a Vinicius de Morais: “Nunca fiz grandes amigos em leiterias”. Particularmente, fiz grandes amigos em tabacarias e clubes de fumadores, tal como, em nosso templo porto-alegrense, a Puros Tabaccos, lugar ideal para uma boa conversa e um bom puro. O charuto agrega as pessoas, relaxa, nos ajuda a enfrentar as adversidades e problemas que a vida nos impõe. A vida fica mais bela, mais cor-de-rosa, mais leve quando estou com um puro entre os dedos, de preferência numa roda de amigos, conversando com a minha mulher, degustando um vinho de boa cepa, um champagne ou mesmo um porto. Nos meus momentos de absoluta solidão, o que admiro, pois posso me dedicar a um outro grande prazer que é a leitura, o charuto é a minha companhia ideal para a reflexão. Eu, meu livro, meu puro, me basta para ser feliz no universo.

Faço parte da Confraria do Charuto de Porto Alegre há mais de 10 (dez) anos. Nossos encontros se realizam mensalmente, sempre na primeira segunda-feira de cada mês. Somos um grupo de aproximadamente 50 (cinqüenta) confrades, unidos pela mesma paixão pelos puros. Ademais, a partir do ano 2003 criamos um seleto e restrito grupo de 12 (doze) amigos que degustam seus puros todas as quartas-feiras. É uma terapia coletiva, não precisamos de analista (que me perdoem os profissionais da área), mas saímos destes encontros relaxados, achando que a vida é para ser vivida intensamente. Aliás, falando em analista, Sigmund Freud foi um grande charuteiro (fumava em torno de 25) por dia. Seu formato predileto era um pouco menor, um figurado, os quais estão expostos no museu dedicado a ele em Viena. Pouco antes de morrer declarou: “Devo ao charuto a grande intensificação da minha capacidade para trabalhar e a facilitação de meu autocontrole”. Neste aspecto, dou razão ao pai da psicanálise, alguns dias no escritório, acendo um puro e parece que as idéias fluem com mais nitidez, aumenta meu poder de concentração.

Sou advogado militante há mais de 18 (dezoito) anos e tenho visto que em minha classe é a que mais existem adoradores de puros. Vivemos um stress diário, fruto dos problemas dos nossos clientes, de processos infindáveis, de prazos exíguos, o que gera um stress ímpar. A minha classe, juntamente com a dos controladores de vôo é a que convive com o maior nível de stress. Nestes dias, em que vida nos pesa, ao final de um dia desgastante, acendo um puro no meu gabinete, parece que a dimensão do problema fica menor.

Voltei à ilha em mais duas oportunidades, em fevereiro de 2005 e neste ano. Nas 02 (duas) ocasiões, durante o Festival Internacional de Puros, que reúne apreciadores de todas as partes do planeta. Em 2005 fui acompanhado de minha mulher e havia sido editada uma lei pelo “El Comandante em Jefe, Fidel Castro” proibindo o fumo em locais públicos. Achei um verdadeiro absurdo, ainda mais em Cuba. Para minha surpresa e alegria, ao adentrar no elevador, de madrugada, depois de uma cansativa viagem, deparei-me com dois espanhóis degustando seus Cohibas Siglo VI. Olhei para a minha mulher que não estava acreditando no que via e disse: “Este é o paraíso”. Inclusive, neste dia, pedi que quando me for, de preferência com a idade do Compay Segundo (95 anos) ou quem sabe com a idade de Gregório Fuentes (Santiago, personagem imortalizado por Ernest Hemingway, em “O Velho e o Mar”), que morreu aos 101 anos, fumando seus puros, conheci-o, em Cojímar (Cuba), quando estava com 98 anos, que levem um pouco de minhas cinzas e joguem no Malecón, em Havana. O hábito de degustar puros, é muito apropriado, não só em nascimentos, batizados, casamentos, formaturas, mas também em funerais, pois a etiqueta nos permite que nos despeçamos de nossos entes queridos, fumando um puro. Quando todas as palavras parecem vazias e inadequadas, um puro nos oferece um momento de comunhão de afetos. Neste sentido, já pedi aos amigos mais próximos que se despeçam deste apreciador de puros, dando baforadas. Imaginem aquele ambiente respeitoso, com meus amigos soltando nuvens azuladas, aquele aroma inconfundível no ar. Um puro pode ser tão necessário quanto um lenço. Por isso, nos meus humidificadores, sempre tenho uma quantidade suficiente para esta ocasião, pois haverão aqueles que se esquecerão inclusive do lenço... Ah, de preferência, coloquem dois cohibas robustos no bolso interno do paletó, pois não sei se quando pegar o cavalo celestial vai haver tabacarias no andar de cima.

Deixando os assuntos fúnebres de lado, este ano no Festival Del Habano, fomos (nosso grupo masculino de fumadores) à Pinar Del Rio, onde fomos recepcionados pelo ícone deste encantado mundo dos charutos, Don Alejandro Robaina. Fomos recebidos na mansarda de sua modesta casa, apreciando os puros elaborados na sua finca. Esta data foi inesquecível, saímos todos emocionados, com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas. Havíamos conhecido Don Alejandro, na sua simplicidade, fumado um puro com ele, o grande “Embajador” del mundo de Tabaco, em Pinar Del Rio. Isso era o que bastava. Era tudo. Havíamos tido um encontro com o Papa.

Após, em setembro deste ano, desembarcamos (nosso grupo masculino de fumadores) na República Dominicana. Estivemos em Santo Domingo e Santiago (aqui ficam as fábricas). Graças a um amigo, conseguimos visitar a Davidoff, sendo recebidos, por seu presidente Hendrik Kelner, uma pessoa gentilíssima, que nos presenteou com o que há de melhor da marca mundialmente famosa. Gosto dos cigarros dominicanos (que é como eles se referem na Dominicana), capa clara, seu aroma mais suave. Entretanto, se tiver que optar, ainda fico com os puros cubanos, feitos totalmente a mão. Não existe qualquer procedimento mecanizado em todo o processo de elaboração.

Para mim, charuto é sinônimo de elegância, de bom gosto. Nunca vi um apreciador de puros ser um brutamonte, descortês. Assim como as mulheres adoram jóias, os homens amam seus charutos. Aliás, nada contra as mulheres fumarem puros, bem pelo contrário, admiro as senhoras e senhoritas que apreciam um puro, tal qual aquela velha anciã que encontrei no ano de 2003, na “La Casa Del Habano”, na Saint Germain des Près, em Paris, degustando seu Hoyo de Monterrey (doble corona), tomando seu chá e lendo o “Le Monde”. A anciã parisiense devia ter uns 85 (oitenta e cinco) anos, mais ou menos. Se não estivesse acompanhado de minha mulher, pediria sua mão em casamento. Detalhe, este ano, juntamente com o Cohiba, fiz 40 (quarenta) anos.

Uma história que acho esplendorosa é a de Winston Churchill, a respeito de quem se diz que em toda a sua vida fumou 250.000 charutos. O seu preferido era um doble corona, calibre 47, sendo que mais tarde tal bitola recebeu seu nome. Durante a II Guerra Mundial, quando Hitler bombardeou Londres, as instalações de seu fornecedor favorito Alfred Dunhill foram danificadas pelo bombardeiro aéreo. Churchill, assim que ficou sabendo, ligou para sua tabacaria favorita e recebeu a excelente notícia que seus charutos não haviam sido atingidos. Hitler não conseguiu ferir o Primeiro Ministro Britânico no seu mais bem mais precioso.

Atualmente, em várias partes do mundo, há uma tendência a proibir a fumaça em lugares públicos. No meu modesto entender, está havendo uma discriminação generalizada. A proibição deveria ser para os fumantes de cigarros. Tal vício comprovadamente causa sérios danos à saúde. Entretanto, não somos fumantes, somos fumadores, apreciadores de uma arte. O charuto não é um vício, é um prazer. Melhor: um estado de espírito. Em meu gabinete, mandei fabricar uma placa de bronze com os seguintes dizeres: “AMBIANCE FUMEUR. NON FUMANTS TOLÉRÉS”.

O perfume que é exalado ao abrir uma caixa de puros é inigualável, um néctar que os Deuses reservam aos pobres mortais. Sentimos em nossas narinas o “terroir” ímpar de Cuba, da República Dominicana. Até hoje nenhum perfume me seduziu tanto quanto o aroma exalado na abertura de uma caixa de charutos. Que os Deuses protejam o solo sagrado de “Vuelta Abajo – Pinar Del Rio” – Cuba, do vale do “Cibao” – República Dominicana, do vale de “San Andrés” – México e também o de “Cruz das Almas e São Gonçalo” – Bahia, para que possamos ter sempre este “ouro negro” elaborado pelas mãos delicadas de torcedores (as). Por fim, citando com a devida licença e alteração, a frase daquela velha dama francesa, proprietária de uma das maiores vinícolas de Reims: “Entre a tragédia e a desgraça, existe sempre um lugar para degustar um puro”.

Um Charuto nunca é apenas um Charuto

Por Jaime Cimenti


Essa história, acho que do charuteiro Freud, que um charuto, às vezes, é só um charuto, que pode não ter conotações fálicas e não sei o quê mais, para mim, pode até ser, mas, na real, é papo simples demais. Qualquer aficionado sabe que um charuto nunca é só um charuto. É muita coisa, muita gente, muitas lembranças e muitos projetos futuros mais, enquanto a vida e a filosofia vão se mesclando nos círculos e labirintos infinitos da fumaça, enquanto os sonhos e as lembranças vão e vem ao sabor da compassada degustação de um puro. Eu, por exemplo, comecei a charutear com meu velho, saudoso pai, Alberto Cimenti, imigrante italiano de primeira, que não morreu, de modo algum, há vinte anos. Lembro que meu pai, energético e algo agitado gringo, quando tomava um charuto nas mãos, parecia que estava manipulando algum objeto "zen". Ele muitas vezes ficava ouvindo seus discos de vinil com clássicos, música italiana e outros ritmos, bebericava um vinho ou um conhaque e ficava pensando em mil coisas. Nas damas, nos negócios, na sua empresa de construções, nos milhões de gols do Inter, na família, no seu País, nos amigos , em boa gastronomia e em muita coisa mais o pai pensava. Nisso tudo e mais muito pensava também meu irmão,o querido Gianfranco, que se foi mas não se foi muito cedo, e de repente, na flor de seus 47 muitíssimo bem vividos. Franco também gostava de charutos e gostava demais da vida, do trabalho e das pessoas. Só o fato dos charutos me darem oportunidade de relembrá-los, já é muito e demonstra que um charuto nunca é só um charuto. Um charuto pode significar um mundo. Ou, de repente, vários mundos. Um charuto pode significar o infinito. Ou, pelo menos, a busca do infinito, o que já é mais do que simpático. Ingressei na Confraria do Charuto bem no início , num tempo que pintavam por lá no Gattopardo da 24 de Outubro 1585, onde hoje é o Sulina Grill, José Antônio Pinheiro Machado, José Abujamra, Eduardo Albuquerque, Ricardo Malcon, Paulo Alencastro, Paulo Amaral, Caco Schuck, Raul Vieira Marques, Moacyr Zaduchliver , Andre Hermann , entre muitos outros amigos. Nosso fiel escudeiro e charuteiro Antônio sempre lá, desde o começo, fornecendo sorrisos, atenções e puros. Depois a Confraria foi para o Gatinho, ali na Cristóvão , esquina Felícissimo, no flat. Sempre sob a batuta da alta confrade Eleonora Rizzo, com o assessoramento luxuoso da Alice Cirne Lima . A Eleonora ,caxiense, é apenas o máximo. Imagina se ela fosse de Bento Gonçalves. Ela segue nos tratando com todo o carinho e não dá para imaginar a Confraria sem ela. Campai, longa vida para ti, Eleonora! Depois a Confraria para vários lugares. Se espalhou pela cidade feito brisa boa. Muita fumaça e muitos charuteiros apareceram e desapareceram, muita conversa rendeu ,algumas intrigas normais, muita coisa rolou desde então. Em alguns momentos a Confraria, especialmente nos meses de verão, deu um tempo. Mas sempre continuou. Silvio Duncan, o grande Silvio, disse que o importante é a poesia e não o poeta. Pois digo para vocês que os confrades são importantíssimos, mas a Confraria é mais, claro. Ela segue, impávida, seu caminho, já com a distinta pátina do tempo nos ombros bem cortados de seu elegante sobretudo. A Confraria do Charuto é tipo a Igreja Católica, morrer, pagar impostos, a Coca-Cola, a Mangueira , Jesus Cristo, Santana, os Beatles, o Inter e outras coisas eternas. A Confraria é forever. Forever young, de repente, como diz a letra do rock gostoso. A Confraria há de ficar. Ao menos em nossas lembranças, em nossos sonhos e nos lábios portadores de puros de nossos filhos, netos, bisnetos e tataranetos vai ficar. A Confraria não vai. A Confraria só vem. E vem, agora, com a força da rapaziada, dos guris que com os charutos vão se formando com láurea na escola da vida, a que mais interessa. Algumas horas de Confraria valem mais que alguns MBAzinhos que andam por aí. Óbvio que os "seniors" aficionados como eu ficam ouvindo e aprendendo muito com os papos, as ídéias e as ações dos caras que são o presente e o futuro da Confraria. Não falei no início que um charuto nunca é apenas um charuto. Me deu até vontade de escrever a história da Confraria. Mas seria apenas um "work in progress", um trabalho em movimento, pois a história mal começou, deve ter só uns quinze anos, se tanto. Hasta siempre, cigar lovers!

Zino #2

Por Eleonora Rizzo


SOU JORNALISTA, COLORADA, VIREI CHARUTEIRA E ARRISCO NA VIDA DE INVENTAR RESTAURANTES NA MARAVILHOSA PORTO ALEGRE. FOI O ANTONIO NUM ANO DISTANTE QUE ME APRESENTOU UM AMOR PERMANENTE, O ZINO NUMERO 2.

COMECEI MUITO BEM MINHA FACETA DE PUROS TABACCOS (SANTO ANTONIO) CERCADA DE AROMAS E FUMAÇA MISTERIOSA, HOMENS INTELIGENTES E DIVERTIDOS QUE FAZIAM DOS CHARUTOS SEUS MOTIVOS DE AMIZADES E ENCONTROS. E EU? EU ENTRAVA COM OS PRAZERES DA MESA. É, FOI LÁ, NO RESTAURANTE IL GATTOPARDO NA 24 DE OUTUBRO, ONDE NÓS, MARIA ALICE E EU RODAVAMOS PELO SALÃO PARA ATENDERMOS DE MELHOR FORMA “OS CHARUTEIROS”. ONDE POR ANOS A FIO FIZERAM DO GATTO SUA CASA. GETULIO, O BARMAN SE ESMERAVA NOS DRINKS. RUDIMAR, O MAITRÊ SERVIA OS PETISCOS E O JANTAR. A COZINHA CRIAVA PRATOS ESPECIALÍSSIMOS. TODOS NÓS ,DE UMA CERTA FORMA , FICÁVAMOS TAMBÉM CHARUTEIROS UMA VEZ POR MÊS.

AOS POUCOS, ALÉM DE FAZER PARTE, FUI ME INTEGRANDO NESSE ENCONTRO MENSAL. FUI HONRADA COM A PROPOSTA DE SER CONFRADE. A ÚNICA MULHER CONFRADE A ASSINAR O LIVRO DE PRESENÇAS. FOI BACANA ESSE SENTIMENTO DE ABRIR CAMINHO PARA O MULHERIO CURTIR SEU CHARUTO SEM CULPA. AFINAL CHARUTO NÃO TEM SEXO... OU TEM? GOSTAR DE CHARUTOS É CULTUAR PRAZER. PRAZER É BOM REPARTIR. ESSA MARAVILHOSA TURMA DE CHARUTEIROS QUE ACOMPANHO HÁ TANTOS ANOS, AGORA SE RENOVA SOB A ATENTA BATUTA DO SANDRO, UM QUERIDO AMIGO E PARCEIRO, REVIVENDO SEUS GRANDES E MELHORES MOMENTOS. E EU , MARIA ALICE E NOSSA TRUPE DE GASTRONOMIA ESTAMOS FELIZES POR ENFEITAR DE SABORES, OS ENCONTROS DA FUMAÇA E DOS AROMAS. POR TRAS DE UM BOM CHARUTO SEMPRE TEM ALGUÉM INTERESSANTE A FIM DE VIVER O LADO MAIS DIVERTIDO E SOLIDÁRIO DA VIDA. ENTÃO, SIGO CHARUTEIRA, SIGO O INTER, SIGO O SANDRO, O ANTONIO, O CIMENTI (QUE É QUASE CAXIENSE) E TODOS ESSES FUMANTES MARAVILHOSOS ATÉ AONDE A FUMAÇA NOS LEVAR.

A MINHA, É SEMPRE DO ZINO NUMERO 2.

Historico da Confraria do Charuto - Porto Alegre

A Confraria do Charuto de Porto Alegre foi fundada em 1995. O primeiro redator da Ata de Fundação foi o jornalista e advogado José Antônio Pinheiro Machado. Atualmente, conta com um número de aproximadamente 100 charuteiros (mailing), sendo que normalmente o quorum é de 50 pessoas. As reuniões são mensais, sempre na primeira segunda-feira de cada mês. O objetivo é a troca de informações sobre a arte de degustação dos puros, bem como eventuais harmonizações com bebidas e charutos. A Confraria conta com a assessoria técnica do especialista Antônio Oliveira, proprietário da Puros Tabaccos, hoje o melhor "cigar lounge" da Região Sul do país. Ao longo dos meses, recebemos visitas de fabricantes que nos apresentam os lançamentos de bitolas, blends de puros fabricados no Brasil. Em 2006 um pequeno grupo de integrantes da Confraria do Charuto participou do Festival Del Habano em Cuba (já participei 03 vezes). Fomos à Pinar del Rio, Vuelta Abajo (melhor solo do mundo) e fomos recebidos por Don Alejandro Robaina (o embaixador dos puros cubanos para o mundo). Além disso, em setembro de 2006, estivemos na República Dominicana, onde fomos recebidos pelo Presidente da Davidoff, Sr. Hendrik Kelner. Agora em novembro de 2007, fomos convidados para participar do Festival Partagás, que se realizará em Havana. Estamos formando um grupo para participar do importante evento que reúne fumadores de várias partes do planeta.

Ao redor do mundo, existem vários clubes de fumadores, principalmente na Europa e Estados Unidos. O Brasil é hoje considerado um grande fabricante de charutos, pelo seu "terroir" na região do Recôncavo Baiano.

Atualmente, a Confraria do Charuto de Porto Alegre é formada por empresários, profissionais liberais, sendo que sua maioria é formada por advogados, médicos e publicitários. O objetivo da Confraria do Charuto de Porto Alegre é reunir os apreciadores da nobre arte de degustação de charutos.